quarta-feira, 7 de abril de 2010

strangers on a train

Strangers on a Train, ou Pacto Sinistro conforme tradução no Brasil, é um filme do mestre Hitchcock lançado em 1951 que carrega muitas das "marcas registradas" do famoso diretor. Não propriamente um thriller ou suspense cheio de reviravoltas do tipo "quem é o culpado?", a trama carrega muitas sutilezas e um certo tom de humor negro, com toques de crueldade e sexualidade subliminar.

O roteiro é uma adaptação do romance homônimo da autora Patricia Highsmith, também responsável pelo aclamado "O Talentoso Mr. Ripley", e chegou a receber algumas linhas do grande expert da novela noir Raymond Chandler. Mas, uma briga de egos entre o escritor e o diretor fez com que a responsabilidade final pelo plot fosse parar nas mãos de Czenzi Ormonde, o que talvez tenha retirado do filme um certo feeling mais "realidade nua e crua" que Chandler sabe manufaturar tão bem. Mesmo assim, a técnica apurada e a habilidade de Hitchcock em controlar seus atores tão bem em cena faz de Strangers on a Train um clássico do cinema.

Tudo começa quando Guy Haines, um tenista amador em ascensão, e Bruno Anthony, um rico socialite com tendências psicóticas, cruzam-se em um trem de Nova Iorque a Metcalf. Ali, num encontro que deixa dúvidas se fora premeditado ou não, Bruno - que através dos tabloides de fofoca já está ciente dos problemas extraconjugais de Guy - utiliza de sua prosa persuasiva para convencê-lo da execução de um crime perfeito: Ele mataria a esposa infiel e promíscua de Guy para que este pudesse casar-se com seu verdadeiro amor, Anne Morton, enquanto ao tenista caberia assassinar o pai de Bruno, a quem o filho tanto detesta. Guy levanta-se e deixa a cabine perplexo com a proposta, enquanto o outro, imaginando que sua idéia fora aceita, resolve seguir com o plano. Aí começa o grande ponto de tensão do filme, em que Guy torna-se o óbvio suspeito pelo assassinato da esposa e Bruno o atormenta com sua suposta "obrigação" de matar ao pai do psicopata.

Há um uso bem interessante dos "duplos" - na onda do conceito "doppelganger" - na estória. Bruno é o duplo de Guy, no sentido que um é mal e o outro bom, um é fraco e o outro confiante, um é decadente e o outro promissor. Guy tem todos os aspectos de um homem independente de família com uma carreira ascendente enquanto Bruno é um solteirão de meia-idade, dotado de uma certa homossexualidade contida, e que ainda vive com os pais. O semelhante biotipo e estilo dos dois reforça essa duplicidade. Vemos doppelgangers também nas figuras da irmã caçula de Anne, Barbara (interpretada pela filha de Hitchcock, Patricia) e na de Miriam (Kasey Rogers), a esposa de Guy. As duas são tão semelhantes que a visão de Barbara faz Bruno entrar em colapso por incitar a lembrança de seu crime. Hitchcock brinca com os duplos várias vezes também na sua direção: ao mostrar o assassinato pelas lentes do óculos de Miriam ou ao filmar o jogo de sombras na cena do túnel do amor.

A performance de Robert Walker como Bruno é impecável, e de fato faz do personagem um dos melhores vilões Hitchcockianos. Seu perfil frágil porém manipulador o deixa mais próximo ao público que a figura de "playboy" de Guy. No fim, há quase que uma empatia natural em ver Bruno suceder com seu plano.

Embora com ecos de melodrama, a trama consegue manter o suspense por sua sutil profundidade psicológica, tão bem explorada com os close-ups, os planos e a montagem de Hitchcock. Strangers on a Train não chega à excelência dos grandes Psycho, Vertigo, Notorious ou Shadow of a Doubt, mas tem todos os ingredientes de uma experiência cinematográfica única, que ainda hoje é extremamente copiada em muitos thrillers psicológicos.

Um comentário:

  1. Ok, esse vai pra listinha de "filmes que me envergonho de não ter visto ainda" então ;)

    Bia

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    http://dondeestascorazon.wordpress.com/
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