sexta-feira, 9 de abril de 2010

junky


Indiscutível clássico cult, o primeiro romance de William Burroughs é um dos grandes cânones da literatura "drogada" dos beats e pós-beats e, junto ao cool jazz, levou o estilo de vida dos viciados em narcóticos pela primeira vez à cultura pop.

Embora mantenha um tom seco e lacônico ao descrever os sentimentos e personagens que seu narrador encontra ao decorrer da história, Burroughs é extremamente sincero e aberto em suas descrições, e já mostrava sinais da sua originalidade em descrever situações guturais e realizar confissões duras e honestas que tanto marcaria sua obra. Em Junky, o texto autobiográfico ganha uma perspectiva detalhista pela escolha do autor em utilizar o narrador como "testemunha ocular" de um modo de vida caótico e surreal a um público "careta". Tudo é muito bem descrito: os sentimentos, ações, pensamentos e encontros do narrador no submundo de Nova Iorque, New Orleans, na prisão e no México.

É interessante a sutil orientação etnográfica do livro, que pode ser visto como uma tentativa de Burroughs dismitificar o estereotipo do viciado e justificar a linguagem e o cotidiano de pessoas que a sociedade considera degeneradas. Ainda assim, o narrador não tem medo em expressar opiniões e falar sobre seus aspectos emocionais.

50 anos antes de Trainspotting, um dos "pais" da geração beat escreveu um retrato dos viciados de uma geração que vivia sob o conservadorismo da direita "Macartista" e fundada em preconceitos sexuais, raciais e sociais. E, mesmo considerando a vida do viciado algo decadente e sem sentido após ler o livro, o leitor não encontra essa direção ideológica no texto de Burroughs, que termina a estória sem se arrepender ou se orgulhar do vício, mas sim como alguém a quem foi apontado um objetivo de vida inexorável e que nada tem a fazer senão cumpri-lo.

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